Os primórdios da longa História do Clube Oriental de Lisboa remontam a Janeiro de 1936. Em entrevista ao jornal Os Sports, Rui de Seixas trouxe pela primeira vez a público a ideia da criação de um clube único que abrangesse toda a zona oriental de Lisboa. A intervenção do então Presidente do Chelas Futebol Clube foi prontamente alvo de duras críticas, mas o mote estava dado: aqui se começava a formar uma nova potência do desporto nacional.
Longos anos se passaram com intermináveis e consecutivos duelos entre Chelas Futebol Clube, Marvilense Futebol Clube e Grupo Desportivo “Os Fósforos”. Alimentados por sentimentos bairristas e rivalidades quase doentias, os três emblemas desta região lisboeta debateram-se em aguerridos duelos dentro e fora das quatro linhas durante mais uma década sem cessar, até uma conversa de café alterar para sempre os destinos da capital.
Tal como confidenciou mais tarde o prestigiado jornalista Artur Inês no jornal República, foi numa tarde de Abril de 1946 passada no salão de bilhares de Café Gelo que tudo começou a ganhar forma. Habitual frequentador do espaço, Artur Inês foi naquele dia abordado pelo antigo vice-presidente do Chelas Futebol Clube José Marques de Oliveira acerca da possibilidade de se proceder à fusão dos três emblemas daquela região, garantindo que a ideia era já amplamente aceite por dirigentes e massas associativas.
Em consequência de todo o apoio demonstrado, é então que em Maio de 1946 Artur Inês publica no República um artigo não assinado onde tornou pública a real intenção de se proceder à fusão, ao que se seguiram uma série de entrevistas a dirigentes dos três emblemas que sustentaram tal posição. Os primeiros a prestar declarações foram Rui de Seixas e José Marques de Oliveira, dois homens a quem – nas palavras de Artur Inês – “muito deve o Clube Oriental de Lisboa” e que acabaram assim por dar o impulso decisivo para a efetivação do sonho orientalista.
Foi no dia 31 de Julho de 1946 que o desejo por tantos ambicionado acabou finalmente por ir a votos. Chelas, Marvilense e “Os Fósforos” reuniram em assembleia geral os seus associados para procederem à aprovação definitiva da fusão. A votação teve grande adesão popular e os resultados não podiam ter sido mais claros: a larga maioria dos sócios, numa escala de 89% em termos globais, declarou-se a favor da fusão. Grande responsável por todo o processo de unificação, o República através de Artur Inês noticiou no dia seguinte que estava aberto o caminho para a constituição de uma “poderosa organização desportiva e cultural, um bloco forte e unido na defesa da saúde, da educação, dos interesses, enfim, da juventude da zona oriental de Lisboa”.